A disparidade entre gêneros (binários, nesse caso específico), é tão grande, que mesmo quando as mulheres conseguem se sobressair e conquistar posições de destaque, ainda se sentem inadequadas e inaptas para desempenhar suas funções. É triste se dar conta do quão perniciosa e debilitante a síndrome de impostora no mercado de trabalho pode ser. Impede que elas se desenvolvam em suas carreiras, já que sempre duvidam de suas capacidades e principalmente, do merecimento de estarem onde estão. Uma pesquisa feita pela Catho, site de classificados de emprego, demonstrou que a diferença salarial entre homens e mulheres chega a 53%, sendo que elas ainda são minoria em cargos de gestão. Dado este panorama, abordaremos nesse post o porquê dessa síndrome afetar principalmente as mulheres, e o que pode ser feito para minimizar seus efeitos negativos na psique e no desempenho delas.

Sentir-se uma fraude: a síndrome de impostora no mercado de trabalho

É exasperante pensar que além da costumeira jornada tripla imposta a maioria das mulheres (casa, filhos se os tiverem, emprego), elas inda têm que lidar com esse distúrbio ardiloso e muitas vezes silencioso: o de se sentir incompetente, incapaz de dar conta do recado. Essa é uma ferida na autoestima exacerbada pelo isolamento da quarentena provocada pela pandemia. A síndrome, embora ainda não seja considerada uma patologia, é um conjunto de sintomas psicológicos associados ao sentimento de inabilidade, principalmente em ambientes acadêmicos ou profissionais. Essa autossabotagem ficou ainda mais evidente nos últimos dois anos com o agravante pandêmico, e afeta mais o público feminino. Mas por quê?

Podemos atribuir essa incidência ao fato delas terem adentrado no mercado de trabalho mais tarde, além de sofrerem com desigualdades escabrosas no tratamento e salário. Tudo isso corrobora para se sentirem inseguras quanto ao desenvolvimento de suas carreiras. Apesar de todos os avanços, duramente conquistados, muitas ainda são vistas como “o sexo frágil” por seus colegas do sexo masculino, e pela sociedade no geral. O que causa uma autopercepção bastante negativa, segundo a psicanalista Edoarda Paron.

Um estudo publicado pela Universidade da Geórgia, nos EUA, mostrou que 70% das entrevistadas, todas identificadas com o gênero feminino, todas executivas influentes, se sentem “uma fraude”. É uma porcentagem alarmante e preocupante, já que demonstra que a saúde mental das mulheres em seus empregos, se encontra em um estado bastante precário.

Sintomas constantes da síndrome de impostora no mercado de trabalho

  • Agressividade;
  • Desconfiança, portanto, não recebem bem elogios;
  • Autoimagem adulterada;
  • Insegurança;
  • Desmerecimento de conquistas.

O que fazer?

A síndrome de impostora, se não for tratada com a devida atenção, geralmente por especialistas, pode desencadear complicações sérias como ansiedade e depressão:

A pessoa se sente culpada diante do fracasso e, quando conquista algo, atribui à sorte ou ao destino. – Psicóloga Ciça Conte

Como qualquer tipo de distúrbio, o primeiro passo para superar a situação, é reconhecer que há um problema. Mas como este em específico diz respeito não só as mulheres, como também envolve o ambiente de trabalho em que se encontram, é fundamental que as empresas contratantes façam sua parte. Valorizando suas colaboradoras e as contribuições diárias que elas proporcionam. É importante que todas se sintam amparadas, confortáveis e confiantes em suas ocupações. A ex primeira-dama dos Estados Unidos sobre o assunto diz:

Encare os pensamentos negativos, sem deixar que eles a impeçam de ocupar espaços e fazer seu trabalho. A única maneira de crescer e superar os medos é aprender a confiar que sua voz e suas ideias têm valor. – Michelle Obama

Dicas

O descaso com o público feminino nas empresas, infelizmente, vai muito além da disparidade salarial. Há relatos quase que diários nas redes sociais, de mães que ao retornarem da licença maternidade, são demitidas sem mais nem menos. A falta de empatia e compreensão num momento tão crucial e importante, é impressionante. Por isso, compreensivelmente, muitas não se sentem seguras em seus cargos, e acabam desenvolvendo paranoias e a síndrome de impostora. Se não elas não podem exercer o direito inato de construir família sem o risco do desemprego, como poderão se desenvolver dignamente em seus campos de atuação? O medo e a insegurança, nesses casos, acabam sendo uma reação para lá de natural. Assim sendo, separamos algumas dicas de “tratamentos” a fim de ajudar nossas leitoras que possam estar passando por essa experiência:

  • Auxílio psicológico e terapia auxiliam a lidar melhor com baixa autoestima. Se sua empresa oferecer esses serviços como benefícios flexíveis, faça bom uso deles;
  • Uma boa conversa com colegas, amigos ou familiares sobre a situação é excelente para desabafar e conseguir novas perspectivas e pontos de vista;
  • Se a síndrome de impostora estiver debilitante a ponto de diminuir a sua qualidade de vida e impedir o cumprimento de suas obrigações, é provável que o ideal talvez seja um tratamento com medicamentos prescritos;
  • Optar por um coach também é uma alternativa a fim de aumentar a confiança profissional;
  • E principalmente, seja mais compassiva consigo mesma, não se cobre tanto e se orgulhe das suas conquistas o máximo que puder.

Concluindo

É inegável que as mulheres conquistaram, felizmente, muitos direitos a partir do século XX. Poder votar, se formar, trabalhar, dirigir, se divorciar e afins. Porém, ainda há muito a ser conquistado. O objetivo é a equidade social entre todos os gêneros. Acesso e oportunidades não devem ser determinados pelo cromossomo ao nascer. Mostramos que a síndrome da impostora tem fundamento, no entanto é importante frisar que é possível vencê-la. Você mulher, que conquistou seu espaço com muito esforço sem dúvida, lute para mantê-lo e principalmente, reconheça seu mérito em ter atingido seus objetivos. Tantas, por motivos diversos, gostariam de estar em sua posição, mas não estão. A conquista de uma sempre foi, e sempre será, a conquista de todas. Por isso valorize aonde chegou. O medo e a dúvida podem ser excelentes conselheiros e protetores, desde que não sejam paralisantes. Seguimos juntos (as).