Foi o tempo em que pessoas passavam a maior parte de suas vidas adultas em um mesmo emprego. Quer dizer, essas pessoas ainda existem, obviamente, mas não fazem parte da geração Z. Os jovens contemporâneos não vêem justificativa em permanecer muito tempo trabalhando em um local onde não se sentem valorizados, e onde as condições de exercícios de suas funções não estão de acordo com suas expectativas e aspirações. A Geração Z e a alta rotatividade nas empresas é um tópico de discussão nos setores de RH, justamente porque há certa dificuldade por parte das empresas, em manter esse jovens colaboradores em sua folha de pagamento.

Dados do Ministério do Trabalho e Previdência, mostram que 25% dos jovens entre 18 e 24 anos costumam trocam de emprego com frequência, permanecendo com as companhias por um período de, em média, 2,9 meses. Isso não dá nem o tempo de experiência de muitos contratantes, o que pode ser um pouco chocante. Tentaremos descobrir porque esse fenômeno, conhecido como job hopping se dá, e porque ele “afeta” mais a geração Z do que qualquer outra. A contemporaneidade apresenta novos desafios ao mercado de trabalho, é preciso surfar na onda para não morrer na praia.

O Panorama da Geração Z e a Alta Rotatividade nas Empresas

Pessoas de 50 anos ou mais tendem a permanecer em seus empregos por 10 anos ou mais, já os mais jovens “pulam de emprego” indiscriminadamente com poucos meses de contratados. Isso acontece principalmente porque as novas gerações procuram mais flexibilidade, qualidade de vida e oportunidades de carreira mais dinâmicas. Especialistas apontam para uma tendência de espontaneidade no mercado atual, ao invés de estabilidade e vocação. Ou seja, as relações empregatícias estão mais fugazes e efêmeras. Os colaboradores mais novos não se prendem a uma única organização ou até mesmo carreira. Se por algum motivo eles ficam insatisfeitos com suas funções, eles mudam. De emprego, de cidade, de cargo… enfim, não há muitas barreiras ou empecilhos para os “gen z“.

Mas essa fluidez é sinônimo de impaciência, instabilidade e intolerância? Talvez, em alguns casos. Mas de uma maneira geral, parece que os jovens que estão adentrando no mercado de trabalho hoje em dia, são muito mais seguros de si, de suas necessidades, expectativas e sonhos. Eles cresceram em um mundo globalizado e totalmente digitalizado, na era da Internet, onde o acesso a informação de todo tipo, é muito mais difundido. Assim sendo, razões econômicas, sociais e comportamentais influenciam, com um peso muito maior, na trajetória profissional dos que estão ingressando no mercado de trabalho.

Realização profissional X qualidade de vida

É fato que diferentes gerações têm experiências histórias distintas. Antigamente, as pessoas tinham uma vivência com menores perspectivas de carreira e maior escassez de recursos e oportunidades. O objetivo era procurar um campo de atuação estável, encontrar um emprego na área escolhida, e permanecer nele até se aposentar. Agora, a geração Z e a alta rotatividade nas empresas demonstra que a economia está mais estável, com mais ofertas de vagas para os mais diferentes níveis de especialização. Além, é claro, da opção de empreender e criar o próprio estabelecimento. Prospecção que antes era reservada somente para negócios de família já consolidados no mercado. O intercâmbio cultural, com foco na esfera internacional também se tornou uma opção mais viável, dada a globalização a nível mundial que experienciamos. A língua inglesa deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade para aqueles que almejam posições de influência e destaque.

De acordo com Alexandre Pellaes palestrante do TedX, existem 5 parâmetros básicos para delimitar uma carreira. As intenções dos colaboradores ao adentrar uma nova organização geralmente são:

  • Aprendizado;
  • Boa remuneração;
  • Status;
  • Qualidade de vida;
  • Impacto social e pessoal (legado e relevância).

Ainda segundo ele, essa é a ordem de objetivos mais seguida pelos Baby Boomers e Millennials. Já os gen z se preocupam com a qualidade de vida e impacto do trabalho, desde o primeiro emprego. São mais destemidos nesse sentido.

“Gerações mais antigas são focadas em fidelidade, solidez de carreira. Era tudo muito quadrado. Hoje, com ambientes e estruturas mais flexíveis, temos um convite constante para questionarmos nossas próprias carreiras” – Alexandre Pellaes.

O perigo geração z e a alta rotatividade nas empresas

O conflito geracional, nesse contexto, é quase que inevitável. E as empresas contemporâneas foram pegas no meio do fogo cruzado. A busca por uma existência com significado das novas gerações demonstra a maior liberdade social de que elas gozam. Especialistas apontam que já não há mais tanta pressão sobre os jovens para se casar, construir família, e possuir bens próprios como casa e carro, por exemplo. Obviamente, muitos ainda sofrem com essas cobranças por parte de suas famílias mais conservadoras. Mas de forma geral, há uma autonomia maior em relação a própria vida, e por consequência, carreira profissional. Porém, toda essa liberdade sem nenhum direcionamento pode acarretar diversos problemas no desenvolvimento ocupacional.

Se o colaborador não demonstra o mínimo de compromisso, comprometimento e responsabilidade para com o cargo que executa, abandonando-o depois de tão pouco tempo, fica difícil para a empresa voltar a apostar nele no futuro. Porém, analisando a situação sob outra perspectiva, longevidade em uma organização não necessariamente corresponde a eficiência e alta performance. Para Lucas Toledo, diretor executivo da Pagegroup:

“A questão é que ninguém entrega nada em um ano. É preciso de um tempo para entender um lugar, produzir valor, gerar entregas consistentes.”

Tudo é uma questão de ponto de vista. Para uns, essa flexibilização extrema de empregos da geração z pode ser uma demonstração de inconstância e leviandade, para outros é sinônimo de ousadia e autonomia. De qualquer maneira, o mais importante é ser objetivo quanto a percepção desse momento. Notar que mudanças são naturais e bem-vindas, em qualquer geração. Mudar é saudável, e no fim, o que contará para o sucesso profissional, será o talento e a dedicação do colaborador em desempenhar sua função, e não por quanto tempo o fez.

Concluindo

A remodelação do mercado de trabalho já é uma realidade impossível de se ignorar. Dessa forma, é necessário pensar em novos padrões para o desenvolvimento profissional, principalmente dos ingressantes da nova geração. A pandemia catalisou mudanças sociais, comportamentais e econômicas que agora devem ser levadas a cabo. A cada dia que passa novas propostas vão surgindo: flexibilização de benefícios, onboarding digital, home office, trabalho remoto, jornada semanal de 4 dias… tudo para adequar os jovens ao novo ecossistema laboral. Eles são mais engajados, preocupados com causas sociais, inteirados sobre seus direitos, e querem ver refletidos nas empresas para as quais trabalham, seus valores pessoais. É portanto, um desafio para as empresas da atualidade manter esse tipo de mão de obra.

Ainda assim, levando em conta tudo o que foi dito, nota-se que a discussão se dá a partir de uma posição de privilégio. Ao menos quando se enquadra a sociedade brasileira nesse panorama. Afinal, este não é o tipo de luxo que toda parcela da população pode se dar. Classes com maior poder econômico podem experimentar com a carreira, mas a grande maioria precisa da estabilidade e segurança que um salário fixo no final do mês proporciona. Portanto, a menos que toda a a pirâmide social seja considerada nesse debate, ele nada mais é do que uma guerra infrutífera entre gerações. Pontos importantes são levantados ao se pensar diferenças geracionais, principalmente sob a perspectiva trabalhista, mas é importante contextualizar a discussão a fim de tirar o melhor proveito dela.