E 2022 continua sendo um ano complicado e instável para o desenvolvimento das startups no Brasil. Enquanto algumas conseguem aportes milionários para continuar se desenvolvendo exponencialmente, como a Gupy que recebeu 500 milhões em Janeiro, outras acabam integrando as altas estatísticas de layoffs pós pandemia, como é o caso do Quinto Andar e da Loft. Surpreendentemente, um segmento de startups tem se dado bem diante da crise: as HRTechs nadam contra a maré e conseguem se sobressair num mercado competitivo e incerto.

Mesmo assim, é importante destacar que o RH não entrou na moda assim do nada. Essa escalada faz parte de um processo lento, que vem se desenvolvendo com o passar dos anos. Curiosamente, foi durante a pandemia que ele tomou corpo e forma, visto a necessidade de adaptação na maneira como a gestão de pessoas que vinha sido feita até ali. Trabalho híbrido ou remoto, home office, anywhere office, e afins. Várias dinâmicas foram aperfeiçoadas a fim de lidar com as demandas únicas do momento. Talvez por isso o interesse em que a área desenvolva cada vez mais tecnologias com o propósito de auxiliar os colaboradores na contemporaneidade. Investigaremos os porquês de tal fenômeno, e se ele durará.

As HRTechs nadam contra a maré mas a grama do vizinho é sempre mais verde

Engana-se quem pensa que o dinheiro tem vindo facilmente. Eduardo del Giglio, fundador da Caju, startup de benefícios flexíveis, diz que muito provavelmente o sucesso dos negócios tem sido o maior atrativo para essa arrecadação de fundos tão relevantes. O crescimento acelerado das empresas do setor é o que têm atraído tais investimentos, e não o contrário. Ainda de acordo com Eduardo:

“O investidor específico para softwares B2B é mais cartesiano, mais lógico e racional no valuation. Então, não diria que foi mais fácil chegar o dinheiro para o negócio de RH.”

Antes de 2019, os aportes na área eram bem mais tímidos. Porém, naquele ano apenas, eles chegaram a US$ 350,2. Segundo dados da HRTech Report 2022, da plataforma de inovação Distrito. Esse dados são interessantes porque refletem o amadurecimento, a digitalização e a automação dos processos de recrutamento, seleção, integração e gestão das empresas. Parece que cada setor acaba passando por essa transformação em algum momento da sua jornada. Assim, se reconhece um problema e se resolve ele com o auxílio da tecnologia, o que reflete na difusão das HRTechs no mercado com as mais múltiplas soluções.

É incrível perceber, no entanto, que essa mudança está sendo lenta aqui no Brasil. Enquanto nos EUA, a automação e digitalização do setor de RH se deu em meados dos anos 2000, por terras tupiniquins, foi só a partir de 2010, ou seja, 10 anos depois, é que começamos a perceber movimentações nessa frente. Mas é como diz o famoso ditado: “antes tarde do que nunca”. Estamos acostumados a seguir os Estados Unidos em tudo. Não seria diferente no âmbito tecnológico e de gestão. O que importa não é quanto tempo demora para que uma revolução aconteça, mas sim como ela é construída, articulada e colocada em prática.

O futuro é promissor

Como comentamos, é inegável que a pandemia acelerou esses processos, embora eles já estivessem sendo timidamente implementados nos últimos anos. É natural que em períodos de crise, inovações sejam pensadas com o propósito de, senão sanar, ao menos diminuir as dores das pessoas de alguma forma. Propostas inovadoras surgiram: o home office, por exemplo, já foi considerado apenas um benefício. Agora é visto como um modelo de trabalho embasado em aumento de produtividade, redução de turnover e flexibilidade. Um dos sintomas da contemporaneidade é que os gestores precisam encontrar novas formas de beneficiar seus colaboradores, para atrair os novos, e reter os atuais. A flexibilização do trabalho precisa andar em conjunto com o oferecimento de políticas de onboarding digital, benefícios flexíveis e gestão de chamados e reembolso.

É fundamental que haja sinergia entre essas áreas, já que quanto mais diverso for o capital humano de uma empresa, mais intrincada deve ser a cartela de benefícios e opções de gerenciamento. Hoje em dia o colaborador se empoderou de tal forma, que já não aceita mais qualquer proposta. Claro, dados os devidos recortes sociais. Mas no nicho tecnológico, por exemplo, se não há atrativos suficientes em uma vaga, ela simplesmente não é preenchida com rapidez. Há uma valorização maior na qualidade do trabalho proposto, e isso engloba vários fatores, além de somente a remuneração como antigamente. As novas gerações que adentram a força de trabalho estão antenadas com as mudanças sociais e esperam vê-las espelhadas nas empresas para qual trabalham. Não moldar os benefícios em uma única realidade, mas sim na pluralidade das pessoas, é o caminho mais certo e seguro para a inclusão e a diversidade.

Concluindo

Previsões apontam para que, após conquistarem e estabelecerem seu lugar no mercado, as HRTechs passem a se consolidar de vez nos próximos anos, incorporando cada vez mais valor aos clientes. O que, por sua vez, aquecerá a economia através da competição acirrada no segmento. As HRTechs nadam contra a maré, agora mais do que nunca, em busca de melhores soluções para a gestão mercadológica de colaboradores. Aquisições continuarão acontecendo, assim como aportes milionários. A questão será como administrar todo esse crescimento a longo prazo. O ecossistema do setor está mudando, estamos vivendo uma nova era de conectividade, inovação e tecnologia. A importância dos departamentos de gerenciamento de pessoal nas empresas crescerá gradativamente. Será uma oportunidade para continuar desenvolvendo os produtos e soluções oferecidos. A tendência é de maior fluidez para o RH, para que este se torne um verdadeiro HUB de gestão, onde diversas funcionalidades convergem em um marketplace integrado.