Uma questão que tem surgido em muitas rodas de conversa, sejam elas presenciais ou virtuais, é a atual “crise” pela qual o setor tecnológico vem passando. O panorama de instabilidade nas startups sugere que as demissões em massa, que vem acontecendo nos últimos meses, continuarão. Dessa forma, o cuidado com o colaborador deve se estender para além do onboarding e contemplar também o offboarding. A esfera de tecnologia, que não está acostumada com cortes abruptos, vem sendo pega “de calças curtas“. No entanto, é interessante notar que segundo Tomás Ferrari, CEO da Geekhunter, ainda há uma oferta maior de vagas do que pessoas capacitadas para ocupá-las. Parece uma contradição não é mesmo? Se há tantas oportunidades no mercado, por que o número de demissões continua aumentando? É o que planejamos descobrir…
Conservadorismo nas propostas e o panorama de instabilidade nas startups
Devido ao cenário atual, as empresas de tecnologia, especificamente, estão se tornando cada vez mais conservadoras em suas novas propostas, e os salários mais enxutos. Visto que agora elas possuem um poder de barganha maior, a tendência é que procurem profissionais de nível mais elevado (sênior), para compor seus times. Profissionais estes que antes, muito provavelmente, não as dariam atenção. Chega a ser curioso quando analisamos que, graças a esse resfriamento no mercado, a tendência é que a rotatividade diminua. Fator que costuma ser bastante alto no setor de tecnologia. Portanto alcançamos um empasse: ao mesmo tempo que as demissões em massa assolam as startups tecnológicas, como Quinto Andar, Vtex, Loft, Facily e afins, elas mesmas se tornam mais seletivas em seus novos processos contratuais. Fica o questionamento: Por que realizar contratações em massa, só para depois efetuar demissões na mesma proporção?
A resposta pode estar nos aportes milionários que muitas delas receberam nos últimos anos. Esses investimentos astronômicos fomentaram um crescimento acelerado, que culminou em diversas contratações para suprir as novas demandas. Depois que a poeira baixou, esse excesso de liquidez se tornou insustentável, e então vieram os layoffs. Queimar dinheiro e inflacionar salários é uma tentação difícil de resistir quando se tem tanto caixa disponível. Infelizmente a conta sempre vem, e geralmente quem “paga o preço“, são os colaboradores. Dessa forma, o processo de recrutamento pode se tornar mais complicado no setor daqui para a frente.
Principais fatores para a massificação das demissões no mercado tech
Como já dissemos, há um conjunto de fatores que têm contribuído para a massificação de demissões no Brasil, principalmente nas startups do setor de tecnologia. Por isso, estudando a posição mercadológica de diversos especialistas, decidimos elencar 5 dos que percebemos serem os mais importantes a fim de elucidar essa questão:
- Inflação dos salários;
- Flexibilidade do modelo de trabalho (muitos profissionais da área só aceitam vagas em modalidades home-office, remota ou híbrida);
- Economia do país;
- Empregabilidade dos colaboradores (cenário competitivo e nível de mão de obra qualificada);
- Reestruturação do mercado (mentalidade/conceito de fazer mais com menos).
É curioso pensar que, mesmo com esse panorama incerto, as empresas consideradas mais tradicionais estão interessadas nos desligados das startups tech. A questão daí passa a ser se os segundos estão dispostos a voltar para um modelo mais normativo de trabalho. É uma questão importante a se considerar. Existe um risco no mercado, isso é fato, a instabilidade é real. Para se exercer a profissão em alto nível, a segurança emocional e psicológica é incrivelmente necessária. Portanto, é imperativo não entrar em pânico e se preparar da melhor forma para um possível layoff. Obviamente temos a consciência de que é mais fácil falar do que fazer, mas nessas horas o bom e velho ditado popular: “o que não tem remédio, remediado está“, vem muito a calhar. De significativo, apenas os próximos passos dados e rumos seguidos. Que ações serão tomadas a partir daí.
O panorama de instabilidade nas startups e a reputação delas no mercado
O número de demissões em startups aumentou 9x no último trimestre desse ano. Esse é um relato realmente assustador e alarmante, que levanta a questão: o que aconteceu com a famosa “gestão humanizada“, tanto pregada e difundida pelas equipes de RH, principalmente nesse setor? Há relatos de layoffs sendo feitos por mensagem em aplicativo, e-mail, ligação, ou conferência de video grupal. Realmente uma falta de bom senso e empatia. Isso causa duas coisas: medo e receio nos profissionais em ingressar em startups, e mancha na reputação delas perante o grande público e a mídia.
Nessa conjuntura, cabe a essas empresas reconquistarem a credibilidade e confiança mercadológica diante de seus stakeholders e colaboradores. Não é uma tarefa fácil, mas imprescindível para uma possível recuperação. Além de tudo isso, ainda se tem lidado com o fenômeno conhecido como “the great resignation” ou “a grande resignação“. Movimento de altas demissões voluntárias que ganhou tração nos EUA em meados de abril de 2021, e chegou ao Brasil causando alarde em 2022. Porém, abordaremos esse tema em um post futuro por aqui. Por enquanto resolvemos usá-lo apenas para ilustrar como a situação de contratações e demissões tem se tornado no mínimo tensa.
Enfim, esse é um tema bastante complexo e ao mesmo tempo interessante. Há várias facetas sob as quais podemos analisar o atual panorama de instabilidade nas startups. Mas não importa o ângulo pelo qual olhemos a situação, percebe-se que ela pode trazer consequências positivas e negativas para o mercado, principalmente tecnológico. Setor esse que vem tendo que lidar com contratações e demissões em massa há vários meses. De toda a crise pode surgir uma nova oportunidade, desde que haja uma gestão apropriada. Continuaremos atentos e abordando os principais desdobramentos, visto que startups de tech são nosso nicho de mercado.